terça-feira, 14 de julho de 2009

Encarando as feridas

Lembro de quando enfrentei a ferida do meu pé pela primeira vez. Tinha acabado de receber alta do hospital após 15 dias internado e chegara a hora de lavar o machucado. Devido ao meu acidente meu pé teve um sulco profundo no tornozelo, no lado direito do pé e teve também uma ferida enorme na parte de traz onde quebrou a tíbia e a fibula. Não imaginava que uma fratura exposta doia tanto. Nos dias que fiquei internado eu perguntava de tudo para os enfermeiros. Perguntei porque alguns enfermeiros tem o maior cuidado ao lavar as nossas feridas e outros são tão descuidados. Percebi que há dois tipos de enfermeiros um que esta lá por necessidade e outros que fazem da profissão o desafio de ajudar as pessoas. Ao meu ver estes enfermeiros são verdadeiros anjos na nossa vida se tornando mais heróis que os próprios bombeiros. Normalmente eles trabalham mais que oito horas por dia já que seu salário é baixo para o tanto que trabalham. O meu herói não é mais o Batmam e sim um enfermeiro que trabalha na Santa Casa de Sertãozinho. Seu nome é Elder. Ele é um cara meio ríspido e o conhecendo a primeira vista dá a impressão que ele é meio grosso, porém, após conhece-lo melhor a gente nota que tudo ele leva com humor. Passei algumas horas internado junto com um paciente que estava com cirrose. Este paciente passou a vida inteira bebendo e caindo pelas ruas de Sertãozinho e agora estava passando seus últimos momentos de vida cagando, cagando mesmo. Bem que eu gostaria de colocar no texto - fazendo coco, ou defecando, pra ficar bonito, só que o que aquele paciente fazia era jogar bosta na nossa cara! a cada quinze minutos ele levantava o cobertor e vinha aquele imenso cheiro desagradável. A enfermeira escalada para limpar a bunda daquele velho não quis encarar o homem, sobrou pra quem? Para o Elder que teve que não somente limpar a Bunda mas todo o corpo do paciente. Enquanto o Elder limpava o paciente eu disse a ele que estava admirado de ver como ele aguentava aquele serviço e ele me disse: "faz 4 anos que estou neste serviço e ainda não me acostumei com isso". Ali eu percebi que pra cuidar de um doente ninguém nasce com o "dom" ou com o jeito pra fazer aquilo. A gente cuida de um paciente daqueles por dois motivos: 1 - Necessidade, ou seja, você é pago pra fazer o serviço e não tem outra forma de ganhar dinheiro; 2 - Coragem, é nojento, fedido, horrível, mas você encara assim mesmo porque sabe que nenhuma pessoa fará com a mesma perfeição que você. As vezes quando um doente fica desfalecido na cama aparece um monte de parente que diz: " ah! como eu gostaria de cuidar dele, mas eu não tenho o dom..." ou então outros dizem "ah!eu não sirvo pra fazer este serviço". Estas são todas palavras hipócritas! Voltando ao assunto, assim que recebi alta do hospital chegara a hora de encarar a ferida. O médico me deu uma receita para que o curativo do meu machucado fosse feito no hospital da minha cidade. Eu quis evitar que meu pé passasse nas mãos dos enfermeiros da primeira opção que descrevi, então resolvi fazer o curativo em casa. Eu estava com as duas mãos engessadas, porém, pude contar com o auxilio da minha futura sogra que mesmo não sendo enfermeira teve a coragem para encarar o meu machucado. Após quinze dias sendo cuidado por ela, os médicos ficaram admirados por perceber o quanto eu havia melhorado. Para terminar quero deixar uma dica: Encare suas feridas. Só porque você não é enfermeiro não significa que você não pode cuidar de si mesmo.

3 comentários:

  1. A pouco tempo, passei o mesmo com meu avô, internado a 90 dias no Hospital São Francisco na cidade de Ribeirão Preto, lá tive a oportunidade de conhecer verdadeiros anjos, pois é assim que costumo chamar os enfermeiros que dedicam e realizam a profissão com amor.Existe em toda profissão dois tipos de profissionais, muito bem lembrado pelo Anderson em seu texto. Meu avô, após ter um infarto e ficar praticamente morto por mais de meia hora, voltou a vida, mas sabiamos o que tinha acontecido, a falta de oxigêncio no celebro, fez com que o mesmo tivesse praticamente morte celebral decretada, mas mesmo assim passamos 90 dias ao seu lado e acompanhei de perto todo esse trabalho, digo o trabalho de um anjo chamado enfermeiro, lá no hospital conheci varios, mas conheci também aqueles sem vontade nenhuma, isso me deixa triste, mas ao mesmo tempo sei que cada um tem o que merece e que um dia Deus vai mostrar isso! Aproveito a aportunidade para dizer que o Anderson é um grande amigo meu, sempre conversamos muito, tenho orgulho de ser o primeiro seguidor de seu blog! Abraço.

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  2. Oi, querido amigo!!!!!
    Sou a Cidinha, irmã da Célia.
    Rapaz!!!!!!!Estou emocionada ao ler estes testemunhos da vida que vc vem passando,nossa que barra, heim!!!!!
    Mas vai passar e vai ficar uma baita experiência de vida prá sempre, onde os ensinamentos vão te levar à maturidade e evolução, afinal estamos aqui para evoluir, pelo menos é no que acredito e espero que vc também, pois só assim para aguentarmos tantas provações.
    Achei interessantes os comentários sobre o atendimento prestado pelos enfermeiros; sabe, eu sou enfermeira e adoro o que faço, sempre gostei de cuidar das pessoas, mesmo antes de me formar; mas o que acontece é que às vezes falhamos e não conseguimos dar tudo de nós, porque também somos seres humanos e cheios de defeitos e não conseguimos separar o pessoal do profissional,também temos muitos problemas e normalmente só trabalhamos com dramas e tristezas e não temos um retorno gratificante, nem mesmo um OBRIGADO por parte de algumas pessoas, fora que também somos muito mal remunerados e muitas vezes somos obrigados a ter 2 empregos, eu já cheguei a ter 3 empregos, hoje já não tenho mais disposição e mal dou conto de 1, que graças à Deus eu tenho, mas pode ter certeza, não é fácil!!!!
    Mas foi bom ler sobre tudo o que vc tem passado, claro que gostaria que nada disso tivesse acontecido, mas vamos tentar tirar o melhor de tudo isso que é saber que vc está VIVO e com uma baita experiência de vida prá poder passar prá muita gente que está sofrendo também.
    Bjs, amigo, fique com Deus, e vc deve estar ciente de tudo que temos passado tb (minha mãe ficou doente e faleceu, meu sogro tb ficou doente e faleceu), enfim estamos passando por momentos tb muito difíceis, gostaria muito de ver vc tb, numa próxima oportunidade em que o Mané e a Célia forem ai, vou com eles. até mais...

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  3. Obrigado! este depoimento enriqueceu muito este blog!

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