Lembro de quando enfrentei a ferida do meu pé pela primeira vez.
Tinha acabado de receber alta do hospital após 15 dias internado e chegara a hora de lavar o machucado.
Devido ao
meu acidente meu pé teve um sulco profundo no tornozelo, no lado direito do pé e teve também uma ferida enorme na parte de traz onde quebrou a
tíbia e a
fibula. Não imaginava que uma
fratura exposta
doia tanto.
Nos dias que fiquei internado eu perguntava de tudo para os enfermeiros. Perguntei porque alguns enfermeiros tem o maior cuidado ao lavar as nossas feridas e outros são tão descuidados. Percebi que há dois tipos de enfermeiros um que esta lá por necessidade e outros que fazem da profissão o desafio de ajudar as pessoas. Ao meu ver estes enfermeiros são verdadeiros anjos na nossa vida se tornando mais heróis que os
próprios bombeiros. Normalmente eles trabalham mais que oito horas por dia já que seu
salário é baixo para o tanto que trabalham.
O meu herói não é mais o
Batmam e sim um
enfermeiro que trabalha na Santa Casa de
Sertãozinho. Seu nome é
Elder.
Ele é um cara meio
ríspido e o conhecendo a primeira vista dá a impressão que ele é meio grosso, porém, após conhece-lo melhor a gente nota que tudo ele leva com humor.
Passei algumas horas internado junto com um paciente que estava com
cirrose. Este paciente passou a vida inteira
bebendo e caindo pelas ruas de
Sertãozinho e agora estava passando seus
últimos momentos de vida cagando, cagando mesmo. Bem que eu gostaria de colocar no texto - fazendo coco, ou defecando, pra ficar bonito, só que o que aquele paciente fazia era jogar bosta na nossa cara! a cada quinze minutos ele levantava o cobertor e vinha aquele imenso cheiro
desagradável.
A enfermeira escalada para limpar a
bunda daquele
velho não quis encarar o homem, sobrou pra quem? Para o
Elder que teve que não somente limpar a
Bunda mas todo o corpo do paciente.
Enquanto o
Elder limpava o paciente eu disse a ele que estava admirado de ver como ele aguentava aquele serviço e ele me disse: "faz 4 anos que estou neste serviço e ainda não me acostumei com isso".
Ali eu percebi que pra cuidar de um doente
ninguém nasce com o "dom" ou com o jeito pra fazer aquilo. A gente cuida de um paciente daqueles por dois motivos:
1 - Necessidade, ou seja, você é pago pra fazer o serviço e não tem outra forma de ganhar dinheiro;
2 - Coragem, é nojento, fedido,
horrível, mas
você encara assim mesmo porque sabe que nenhuma pessoa fará com a mesma perfeição que
você.
As vezes quando um doente fica desfalecido na cama aparece um monte de parente que diz: " ah! como eu gostaria de cuidar dele, mas eu não tenho o dom..." ou então outros dizem "ah!eu não sirvo pra fazer este serviço".
Estas são todas palavras
hipócritas!
Voltando ao assunto, assim que recebi alta do hospital chegara a hora de encarar a ferida. O médico me deu uma receita para que o curativo do meu machucado fosse feito no hospital da minha cidade. Eu quis evitar que meu pé passasse nas mãos dos enfermeiros da primeira opção que descrevi, então resolvi fazer o curativo em casa.
Eu estava com as duas mãos engessadas, porém, pude contar com o auxilio da minha futura sogra que mesmo não sendo enfermeira teve a coragem para encarar o meu machucado.
Após quinze dias sendo cuidado por ela, os
médicos ficaram admirados por perceber o quanto eu havia melhorado.
Para terminar quero deixar uma dica:
Encare suas feridas. Só porque
você não é enfermeiro não significa que
você não pode cuidar de
si mesmo.